sexta-feira, 17 de maio de 2013

JANELA IMUNOLÓGICA

Esse de longe é um dos tópicos mais debatidos no google quando falamos em HIV.
Mas por que isso acontece? Por repetição e desatualização.

A janela imunológica é um conceito utilizado originalmente nos bancos de sangue pra denominar o tempo entre a exposição e a detecção de determinada patologia em um indivíduo. Se a pessoa for testada antes pode gerar um resultado negativo, só que falso (Falso Negativo), porque embora infectado, o individuo não desenvolveu marcadores suficientes para serem detectados no exame.


Antes de falarmos sobre a famosa janela, vamos falar sobre a vida do HIV no nosso corpo.
Como proposta desse blog é ser o mais simples possível para o entendimento de pessoas de "8 a 80 anos", abdicarei de termos técnicos, simplificando o processo.

O indivíduo entra em contato com o vírus por transmissão sexual, compartilhamento de seringas ou método que permita o vírus alcançar a sua corrente sanguínea. Chamaremos esse evento de "DIA 0".

Após entrar no corpo o HIV começa a fase que durante o qual os linfonodos e o baço são locais de replicação continua do HIV e constante destruição tissular. É considerado um período de latência clinica, pois nessa fase nenhum sintoma se apresenta. Existe uma baixa produção de cópias do vírus, a maioria de células periféricas não abriga o vírus. É o que se chama da fase de ECLIPSE e essa fase do "pique esconde" se mantém em média até o 7º dia. Chamaremos esse de "DIA 7".

A partir daí começa um replicação desenfreada dele e uma briga com os linfócitos que tentam lutar contra ele e geralmente perdem temporariamente essa batalha, ocorrendo uma grande destruição celular de tecido linfóide das células T CD4+ com isso o número dessas células em tecido sanguíneo periférico cai. Calcula-se que o HIV destrói por dia 2x109 células TCD4+/dia. Daí o corpo inicia um "crash" imunológico com o evento de vários sintomas como febre, inguas no pescoço (basicamente na nuca), nas axilas e até virilha, além de poder desenvolver erupções cutâneas (rash) e os sintomas de dor no corpo e prostração, como se fosse um estado gripal. Esse evento é chamado de "infecção primária" e ocorre em média 1 ou 2 semanas após o fim do período de eclipse. Nessa fase o corpo já começa a produzir a proteína de 24 Kilodaltons (P24) do nucleocapsídeo do vírus tipo I .

O corpo leva um tempo relativo para as CD4+ se recuperarem do baque, identificarem que é um vírus estranho e combatê-lo gerando anticorpos para esse vírus fazendo baixar a carga viral (que sem tratamento depois de anos irá ganhar essa guerra em definitivo do sistema imunológico) e deixar o vírus latente. Esse evento é chamado de "soroconversão completa" e ocorre em média de 3 a 4 semanas após o período de eclipse.

A proteína P24 tem uma referência cruzada direta com os anticorpos do HIV até o fim da vida do indivíduo, ou seja, após o seu surgimento o seu marcador cresce exponencialmente no sangue e nele permanece até o surgimento dos anticorpos, entrando em latência em seguida e só voltando a se manifestar em níveis altos na fase final da AIDS quando os anticorpos então escassos. Por esse fator os exames de 4ª geração ao procurar pelos anticorpos e pelo P24 são capazes de reduzir bastante a janela, outrora relegada apenas aos anticorpos.
Nota que podemos saber o dia da infeção e do período estimado de eclipse, mas o tempo que o corpo de uma pessoa imunocompetente leva pra se defender do vírus varia de pessoa para pessoa. Não somos exatos e não somos matemáticos por isso tudo varia.


AS JANELAS & EXAMES

Não é preciso falarmos aqui de exames que não se usam mais de 1ª e 2ª gerações, senão pra entender porque muitas pessoas ainda se apegam a janelas de 180... 90 dias. Gente... isso já foi. Estamos em 2013.

Os exames hoje utilizados para triagem do HIV estão na 4ª geração na imensa maioria dos labs particulares e em alguns CTAs; e na 3ª em muitos CTAs e em pouquíssimos labs particulares do Brasil.

Vou falar o que é o CERTO: Exame de TRIAGEM é HIV 1+2, seja metodologia ELISA, ELFA, QUIMIOLUMINESCENCIA, ELETROQUIMIOLUMINESCÊCIA, IMUNOCROMATOGRÁFICO, além de poder ser utilizado o NAT (que é o exame que busca o DNA do vírus)

Exame CONFIRMATÓRIO é WESTERN BLOT
As pessoas usam exames que não são os recomendados para tentar adiantar a janela (sem precisar pagar uma fortuna pelo RNA-HIV) que são: P24 (só antígeno) e PCR. A seguir entenderemos a janela e o porquê de usar ou não cada um:

TESTE RÁPIDO
Janela: Geralmente a mesma para exames de 3ª geração embora já existam testes rápidos com similaridade a um exame de 4ª geração.

HIV 1+2 anticorpos (3ª geração)
Janela: A partir de 29 dias. Conclusivo com 60 dias.

HIV 1+2 anticorpos + antígeno p24 (4ª geração)
Janela: A partir de 22 dias. Conclusivo com 30 dias.

Antígeno p24
Janela: A partir de 17 dias. Conclusivo com 30 dias.
Observação: Ele é mais sensível do que junto com o HIV1+2, identificando assim menos cópias do antígeno na mesma amostra, mas é inespecífico para o HIV após 45 dias do "DIA 0" e antes da fase terminal da AIDS. É sempre indicado que seja feito com o HIV 1+2.

PCR
Janela: ----
Observação: É um exame com alta taxa de falso positivo e com a finalidade de medir a carga viral e não fazer triagem.

NAT
Janela: 12 dias
Observação: Exame de alto custo

WESTERN BLOT
Janela: -----
Exame confirmatório caso o exame de triagem se apresente positivo

Existe um evento que deixa muita gente preocupada que é a SOROCONVERSÃO TARDIA. A soroconversão tardia ocorre quando o organismo do indivíduo infectado não consegue produzir anticorpos para o vírus no tempo esperado. No entanto, esses casos são muito raros na literatura e acontecem apenas em pacientes que tenham alguma deficiência na produção de imunoglobulinas, que são os anticorpos detectáveis na maioria dos testes sorológicos. Doenças autoimunes, doenças inflamatórias crônicas, gravidez, leucemia, são alguns casos que podem interferir nessa produção de anticorpos. O tempo para soroconversão depende de cada organismo. O prazo máximo conhecido é de 120 dias mas essa é a exceção da exceção da exceção. Não... o seu caso não é um desses.
Para maiores informações, se informe com o seu médico e com o laboratório ou CTA.
Sempre que possível busque a orientação de um profissional de saúde para solicitar e interpretar os seus exames. Até porque existem outras DSTs que devem ser testadas.








quinta-feira, 16 de maio de 2013

HIV x AIDS (SIDA)

Não é possível entender o mais complexo se nos abstermos de conseguir compreender o básico e de forma resumida, já que não somos cientistas. Somos apenas pessoas querendo entender o que é.

Em síntese, HIV é causa e AIDS é efeito. PONTO.

HIV


O HIV é um retrovírus que os cientistas atribuem sua origem a macacos do Congo na década de 30 e só identificado como tal no fim da década de 70 (quase 50 anos depois) - e foi identificado no Brasil pela primeira vez em 1982 -, é observado em duas grandes categorias: HIV-1 e HIV-2 

No grupo HIV-1 existe uma grande variedade de subtipos designados de -A a -J. Esses dois grupos tem diferenças consideráveis, sendo o HIV-2 mais comum na África Subsaariana e bem incomum em todo o resto do mundo.

Portugal é o país da Europa com maior número de casos de HIV-2, provavelmente pelas relações que mantém com diversos países africanos. É estimado que 45% dos portadores de HIV em Lisboa tenham o vírus HIV-2.

AIDS(SIDA)


A AIDS, que é a Síndrome da ImunoDeficiência Adquirida) é um conjunto de reações que o indivíduo com o sistema imunológico completamente debilitado pelo vírus HIV, desenvolve depois de um considerável tempo de infecção que varia de meses a anos.
Existe uma classificação não muito rígida para a velocidade que o indivíduo se debilita e isso varia por vários fatores genéticos, sociais e estio de vida:
  • Rápido progressor (adoece em até 3 anos)
  • Médio progressor (adoece entre 4 e 7 anos)
  • Longo progressor (entre 8 e mais anos)
A velocidade de progressão está relacionada com a queda da contagem de linfócitos T CD4 no sangue (a contagem normal dos linfócitos varia de 1.000 a 2.500 células/ml de sangue) e com a contagem da carga viral do HIV (a contagem da carga viral é considerada alta acima de 100.000 cópias/ml de sangue. A escala para carga viral é habitualmente logarítmica. Com o tratamento adequado, a carga viral tende a ficar abaixo de 50 cópias/ml.
O HIV destrói os linfócitos CD4 gradativamente (em média a contagem declina 80-100 células/ml/ano). A contagem relaciona-se inversamente com a gravidade da doença. Para fins de tratamento com as drogas antirretrovirais consideram-se os seguintes parâmetros:
  • Abaixo de 200 células/ml: Muito vulnerável, tratar imediatamente;
  • Entre 200 e 350 células/ml: Vulnerável, deve ser iniciado o tratamento para evitar riscos;
  • Entre 350 e 500 células/ml: Pouco vulnerável, pode começar a critério médico;
  • Acima de 500: Saudável, não precisa começar o tratamento.
Porém todos os pacientes com doença oportunista relacionada ao HIV devem ser tratados mesmo com CD4 alto.

Doenças oportunistas 

Os sinais e sintomas das doenças relacionadas ao HIV são extremamente variáveis. Uma característica importante é a contagem de linfócitos T CD4. As doenças oportunistas mais comuns que podem sinalizar a contaminação por HIV são:

  • Tuberculose
  • Neurotoxoplasmose
  • Candidíase (geralmente no esôfago é um indicativo de grande débito imunológico)
  • Pneumocistose recorrente
  • Sarcoma de Kaposi
  • Linfomas
  • Câncer cervical
  • Infecções bacterianas severas
Geralmente apenas pessoas que desconhecem que estão com o vírus adoecem e só descobrem que estão contaminadas por causa das coinfecções. Tomar os antirretrovirais retorna a imunidade a níveis saudáveis, prevenindo essas e outras doenças. Quando uma dessas doenças é diagnosticadas alguns médicos recomendam que sejam feitos testes para verificar a presença do HIV. Apesar de correlacionadas ao HIV, é importante lembrar que é possível que essas doenças estejam presentes mesmo sem o vírus do HIV, geralmente relacionado a outro fator que leve a uma queda grave da imunidade.

Conclusão

A AIDS nos dias atuais só se manifesta em casos muito raros ou em indivíduos que não fazem o tratamento ou o fazem de forma errônea ou desleixada.

Hoje a gama de medicações tornaram o HIV altamente controlável e em concentrações quase não identificáveis na corrente sanguínea, sendo considerado uma doença crônica, tal qual a diabetes, por exemplo, desde que tratada.

De qualquer forma, PREVINA-SE... do HIV e do preconceito.


FAÇA O EXAME UMA VEZ POR ANO








APRESENTAÇÃO

Esse é um projeto de um carioca de 35 anos, soro negativo, interessado na correta divulgação das informações que são tão deturpadas por pessoas que não se atualizam e não buscam se embasar nas questões técnicas e nas diretrizes mais recentes do ministério da saúde acerca do HIV e da AIDS.

Aqui debateremos objetivamente o que é o HIV, como se prevenir, como se testar, tipos de testes, janela imunológica, profilaxia pós exposição, medicações para controle do HIV, qualidade de vida e opiniões dos maiores especialistas e sites pelo mundo a fora.

Esse é um local para referência e não para diagnósticos. A busca por uma opinião especializada SEMPRE será priorizada: Apenas o seu MÉDICO poderá lhe diagnosticar e a palavra deste será soberana. Apenas o exame poderá lhe dizer se você é positivo ou negativo para HIV. Nunca se leve por achismos ou depoimentos de pessoas que muitas vezes sabem menos que você na internet.

Links de referências:
http://www.aids.gov.br/
http://sistemas.aids.gov.br/fiquesabendo/
http://www.aidsmap.com/
http://www.aidsportugal.com
http://drauziovarella.com.br/
http://prazeralexandre.blogspot.com.br/

Dúvidas:
http://www.formspring.me/minsaude